Saturday, April 25, 2009

Marion Zimmer Bradley

Virou as costas para o convento e desceu para o lago ao longo do caminho. Aquele era o lugar onde o véu que existia entre os mundos era tênue. Ela não precisava mais chamar a barca - só precisava caminhar através das brumas aqui, e chegaria a Avalon. Sua missão estava cumprida.
As Brumas de Avalon

Colleen McCullough

Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra. A partir do momento em que deixa o ninho começa a procurar um espinheiro-alvar, e só descansa quando o encontra. Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E, morrendo, sublima a própria agonia despendendo um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol. Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro pára pra ouvi-lo, e Deus sorri lá no céu. Pois o melhor só se adquire à custa de um grande sacrifício.
Prefácio de "Pássaros Feridos"

BÍBLIA

"Procurai a caridade e aspirai aos dons espirituais, sobretudo ao da profecia."

Primeira Carta aos Coríntios 14:1



ANTON TCHEKHOV

Não será somente por mais duzentos ou trezentos anos, mas ainda por um milhâo de anos. A vida continuará como tem sido até agora. Ela não varia, é constante, segundo suas próprias leis que não nos dizem respeito, ou, pelo menos, não conheceremos jamais. Os pássaros migratórios voam e continuarão a voar sem saber para onde. Voam independentemente dos filósofos que surjam entre eles...
AS TRÊS IRMÃS

MAURO RASI

Sabe doutora, eu mudei, mas o meu EU antigo não me deixa em paz.
O seu o que?
Meu outro EU. Minha natureza anti-social. Vou te falar... EU não me deixo em paz... Fica me ligando, dizendo EU voltei, EU voltei... Também que sacanagem meus pais me darem o nome de Ella. Homenagem a Ella Fitgerald.. Me chamavam Ella, eu olhava pra Ella e ela era EU. Agora EU tá lá fora dizendo que quer me pegar... Posso morar aqui pra sempre, doutora? EU é fogo! Se a senhora abrir a porta estou ferrada.
Não me pira não Ella. Deixa eu dar uma espiadinha nesse EU... Tô morrendo de curiosidade.
Não abre doutora!
Só um pouquinho.
EU entrou!!! Que é que estão olhando? Querem levar porrada? Quero beber, me dá xarope romilar. Me dá mandrix! Quero tomar um pico, cadê a jéba? Vou dar porrada em todo mundo!
Ella! Ella!
Sou EU doutora!
Prefere que eu te chame de nós? Agora fora daqui! E vocês que não me tragam seus outros EUS pra tumultuar a sessão senão eu cobro deles também! Todos os EUS, EGOS e ALTER EGOS devem ficar lá fora. Onde já se viu agora eu ficar trabalhando pra fantasma!
A MENTE CAPTA

MAURO RASI

A terapia do obelisco funciona assim: Pôe o obelisco na cabeça cinco minutos, e quando tira a gente se sente tão bem. Mas não vão ficar toda hora que tem dorzinha por o obelisco. "Ai doutora, estou com uma angustia..." e põe o obelisco. "Ai doutora, minha auto-estima isso e aquilo..." e põe o obelisco. "Ai, tô com não sei o que..." e põe o obelisco. Vocês tem que vencer por vocês, senão gera dependência. Agora me ajudem a tirar o obelisco da cabeça desta daqui. Não deixem cair que me faz um rombo no chão. Pronto! Outra coisa, na reconstrução e dismistificação do trauma só recriaremos a situação aqui UMA VEZ! Depois se precisar recriar de novo paga taxa extra. Eu que não vou ficar aqui toda hora alimentando sofrimento alheio. "Ai doutora, quero me lembrar daquela situação horrorosa que me aconteceu há dez anos atrás..." "Ai doutora, quero lembrar daquela coisa pavorosa que aconteceu quando eu tinha seis anos de idade..." Quer sofrer tem que pagar! No meu tempo um belo tanque de roupa suja resolveria todos os problemas de vocês!
A MENTE CAPTA

Friday, April 24, 2009

Simone de Beauvoir

O sol brilhava e, todavia, a luz não tinha vigos bastante para manter as coisas à distância; elas me esmagavam. As letras do meu livro colavam-se aos meus olhos, cegavam-me. Meu peso me sufocava, minha respiração envenenava o ar: era de mim que eu teria gostado de escapar.

OS MANDARINS

Emile Zola

Antes todos esses horrores ainda podia-se aguentar. Comíamos pão seco mas estávamos todos juntos.


O GERMINAL

John Steinbeck

Há um crime nisso tudo, que não foi denunciado. Há uma tristeza nisso, que o pranto não pode simbolizar. À terra fértil, às filas retas de árvores, aos troncos vigorosos e às frutas maduras. E as crianças sofrendo de pelagra tem que morrer porque a laranja não deve deixar de dar o seu lucro. E os médicos-legistas devem declarar nas certidões de óbito "morte por inanição" porque a comida deve ser forçada a apodrecer.

Os campos estavam prenhes de frutas, e nas estradas marchavam homens que estavam morrendo de fome. Os celeiros estavam repletos e as crianças pobres cresciam raquíticas. As grandes companhias não sabiam que era uma linha muito tênue a linha divisória entre a fome e a ira.
AS VINHAS DA IRA

WILLIAM SHAKESPEARE

Quando estás perto a noite se transforma em aurora. Diz teu nome para que eu possa murmurá-lo em minhas preces.

A TEMPESTADE

WILLIAM SHAKESPEARE

Meu poder já não existe,
Só a minha força persiste
É débil, mas é verdade
Que eu fico à vossa vontade,
Ou será Nápoles. - Não,
Tenho o ducado na mão,
Perdoei de alma serena,
Mereço escapar à pena.
Libertai-me, pois, da ilha,
Com vossas mãos-maravilha!
Vosso sopro às minhas velas vem
Ou meu sonho se retem,
De agradar-vos. E hora em falta
Do feitiço que me exalta,
O meu fim é o desalento.
Só de orações me sustento:
Que elas assaltem, bem forte,
Os muros da minha sorte.
Perdão que haveis de pedir,
Dai-me igual. Deixai-me ir.
A TEMPESTADE

WILLIAM SHAKESPEARE

Que importa o quanto eu já tenha visto ou conhecido? Sonhei que havia um nobre rei por nome Antônio. Ah! Se pudesse mais uma vez dormir para de novo ver um homem como ele! Por céu tinha o rosto onde brilhavam o sol e a lua, iluminando a Terra. Abarcava com as pernas o oceano e o braço erguido coroava o mundo. A voz tinha a harmonia das esferas quando aos amigos falava, mas se quisesse abalar os ventos era como um trovão. Seu gosto em dar não conhecia o inverno, era sempre um outono que ficava mais rico ao ser colhido. Seu prazer, como o golfinho, mostrava o dorso acima das ondas. Coroas e diademas apertavam-se em seu séquito. Reinos e ilhas eram as moedas que do bolso lhe caíam...
ANTONIO E CLEÓPATRA

WILLIAM SHAKESPEARE

Oh sol, abrasa a esfera em que te moves, deixa sem luz as estrelas e apaga as praias deste mundo...
Morro Egito, morro. E só por um instante aqui detenho a morte até que eu possa pousar, dentre milhares, ainda um beijo - o último - em teus lábios.

Reanima-te com beijos? Ah, se meus lábios tivessem tal poder...
Uma palavra, doce rainha: Não chore e nem lamente as tristes mudanças do meu fim. Pense apenas em dar-te força as glórias passadas do que vivi. Quando eu era o maior entre os principes, o mais nobre que nesta hora não morre baixamente.

Vais morrer e de mim já não fazes caso? É preciso que eu permaneça só neste mundo vil, que privado de ti, vale tanto quanto um chiqueiro? Derreteu-se a coroa da Terra e o estandarte caiu não ficando nada mais que merecesse ser notado nas visitas da lua. Morrer agora só me cumpriria o destino de avistar-me com os deuses cruéis e dizer-lhes que meu mundo era igual ao deles até que me privaram de minha jóia rara.
ANTONIO E CLEÓPATRA

WILLIAM SHAKESPEARE

Fui traído.
Alma falsa do Egito!
Mal encanto, por cujo olhar eu fiz e desfiz guerras,
Que foi minha coroa, meu propósito
Cigana que me prendeu
Me fascinou até eu perder tudo!

Antonio e Cleópatra

Thursday, April 16, 2009

HERMANN HESSE


Pense em tudo que existe, que entre a lua e você perpassam radiações e fluxos, que existem a morte, a região das almas e o retorno à terra e que para todas as imagens e fenômenos do mundo há uma resposta no íntimo de seu coração, e que tudo lhe diz respeito.

O Jogo das Contas de Vidro