Saturday, April 19, 2008

J W ROCHESTER


Essas longas noites de inverno quero dedicar à memória da única mulher que amei e junto ao túmulo da qual quero viver e orar até o fim dos meus dias...

O CASTELO ENCANTADO

Monday, April 14, 2008

Chico Buarque


Esta cova em que estas, em palmos medida. É a conta menor que tiraste em vida. De bom tamanho, nem largo nem fundo. É a parte que te cabe deste latifundio. É uma cova grande pro teu pouco defunto Estaras mais ancho que estavas no mundo. Não é cova grande, é cova medida, É a terra que querias ver dividida. Uma cova grande pra tua carne pouca. Mas é terra dada e não se abre a boca.

MORTE E VIDA SEVERINA

Joao Cabral de Melo Neto


— O meu nome é Severino, como não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias. Mais isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem falo ora a Vossas Senhorias? Vejamos: é o Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba. Mas isso ainda diz pouco: se ao menos mais cinco havia com nome de Severino filhos de tantas Marias mulheres de outros tantos, já finados, Zacarias, vivendo na mesma serra magra e ossuda em que eu vivia. Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas e iguais também porque o sangue, que usamos tem pouca tinta. E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de emboscada antes dos vinte de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida). Somos muitos Severinos iguais em tudo e na sina: a de abrandar estas pedras suando-se muito em cima, a de tentar despertar terra sempre mais extinta, a de querer arrancar alguns roçado da cinza. Mas, para que me conheçam melhor Vossas Senhorias e melhor possam seguir a história de minha vida, passo a ser o Severino que em vossa presença emigra. MORTE E VIDA SEVERINA