Tuesday, December 25, 2007

Leonardo da Vinci



O olho humano, numa distância e em condições medias, se equivoca muito menos que qualquer um dos outros sentidos.
Assim como um dia bem empregado conduz a um sono doce, uma vida bem vivida conduz a uma morte doce.
Muito maior é a glória da virtude e da moral que qualquer outro tesouro material.
Adquira na juventude o bem que compensa o prejuízo da velhice. Se compreenderes que o que sustenta a velhice é a sabedoria, cuide de seus áureos anos para que não te falte alimento no fim da vida.
AFORISMOS

Tuesday, December 11, 2007

John Steinbeck



Algo ancestral se agitou dentro de Kino. Por entre o
medo da escuridão e dos demónios que assombravam
a noite, sentiu uma onda de exaltação; algo animal se
movia dentro dele, de modo que se tornara cauteloso e
prudente e perigoso; renascia nele o instinto ancestral
do seu povo. Sentia o vento nas costas e guiava-se pelas
estrelas.
A PÉROLA

Fernando Pessoa


Tornei-me uma figura de livro, uma vida lida. O que sinto é (sem que eu queira) sentido para se escrever que se sentiu. O que penso está logo em palavras, misturado com imagens que o desfazem, aberto em ritmos que são outra coisa qualquer. De tanto recompor-me destruí-me. De tanto pensar-me, sou já meus pensamentos mas não eu. Sondei-me e deixei cair a sonda; vivo a pensar se sou fundo ou não, sem outra sonda agora senão o olhar que me mostra, claro ao negro no espelho do poço alto, meu próprio rosto que me contempla contemplá-lo.
LIVRO DO DESASSOSSEGO

ÉSQUILO


O conhecimento nos chega através do sofrimento.

É contra nossa vontade que nos tornamos sábios.

A ORESTEIA

J. W. Rochester


Até onde vai o poder absoluto? Pobres faraós do Egito! O tempo fez jus ao vosso orgulho pois não foram despertados de vossos sarcófagos enquanto estrangeiros invadiam vossas terras, devastavam vossas cidades e destruiam vossos impérios...
ROMANCE DE UMA RAINHA

Sunday, November 11, 2007

Jorge Luis Borges



BASTAM DOIS ESPELHOS OPOSTOS PARA SE CONSTRUIR UM LABIRINTO.

Friday, November 02, 2007

VICTOR HUGO


Enquanto homens forem explorados, mulheres e crianças tiverem medo; Enquanto houver fome, miséria e ignorância sobre a Terra, histórias como esta precisam ser contadas...




Prefácio de "Os Miseráveis"

Thursday, October 04, 2007

MARCEL PROUST


Julgara Elstir modesto, mas percebi que me enganara ao ver seu rosto somatizar de tristeza quando, numa frase de agradecimento, pronunciei a palavra glória. Aqueles que crêem duráveis as suas obras e era esse o caso de Elstir, adquirem o hábito de situa-las numa época em que eles mesmos não serão mais que pó. E assim, obrigando-os a refletir a cerca do nada, a idéia da glória os entristece porque é inseparável da idéia da morte.
EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Sunday, September 23, 2007

Ésquilo


A ruína é punição inexorável da pretensão sem termo e sem medida e das extravagâncias da opulência. O dom supremo é ter comedimento; queiramos só os bens inofensivos, suficientes quando há bom senso, pois a prosperidade nunca serve aos que se sobrepõem à justiça.


AGAMENON

Saturday, September 15, 2007

Albert Camus

Os deuses condenaram Sísifo a incessantemente rolar uma rocha até o topo de uma montanha, de onde a pedra cairia de volta devido ao seu próprio peso. Eles pensaram, com alguma razão, que não há punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança. Se este mito é trágico, é porquê seu herói é consciente. Onde estaria realmente sua tortura se a cada passo a esperança de prosperar o sustentasse ? O trabalhador de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e seu destino não é menos absurdo. Você já captou que Sísifo é o herói absurdo. Seu desdém pelos deuses fizeram com que ele recebesse aquele inexprimível castigo no qual todo seu ser se esforça para executar absolutamente nada. Entretanto a felicidade e absurdo são dois filhos da mesma Terra. Eles são inseparáveis. Eu deixo Sísifo no pé da montanha! Sempre se acha sua carga novamente. Mas Sísifo ensina a mais alta honestidade, que nega os deuses e ergue rochas. Ele também conclui que está tudo bem. O universo, de agora em diante sem um mestre, não parece a ele nem estéril nem inútil. Cada átomo daquela pedra, cada lasca mineral daquela montanha repleta de noite, em si próprio forma um mundo. E a própria luta em direção às alturas é suficiente para preencher o coração de um homem. Deve-se imaginar Sísifo feliz.
O Mito de Sísifo

Sunday, September 09, 2007

Jostein Gaarder

Depois podia ler-se: "A pessoa mais sábia é a que sabe que não sabe". Mais sábia que quem? Se o filósofo queria dizer com isso que uma pessoa que sabia que não sabia tudo era mais sábia do que uma que sabia pouco e que pensava que sabia muito - sim, nesse caso não era muito difícil partilhar a sua opinião. Sofia nunca tinha pensado nisso. Mas quanto mais pensava, mais claro lhe parecia que, no fundo, saber que não se sabe é uma espécie de saber. Ela não conseguia imaginar nada mais estúpido do que pessoas que defendiam opiniões que julgavam irrefutáveis, quando, na realidade, nada sabiam sobre isso.
O MUNDO DE SOFIA

LEO BUSCAGLIA


Os fracos são crueis. Só podemos esperar gentileza das pessoas fortes.
Posso não ser um sacrilégio nem um privilégio, nem competente nem excelente, mas sempre estive aqui presente.
Se todas as pessoas soubessem viver não teriam medo da morte.
Corra riscos; pois a pessoa que não arrisca não faz nada, não tem nada, não é nada.
Vivendo, amando e aprendendo

Friday, August 10, 2007

Vinicius de Moraes


Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos
No meio de todos eu ouvirei calado e atento, comovido e risonho
Escutando verdades e mentiras
Mas não dizendo nada
Só a alegria de alguns compreenderem bastará

Acontecimento

Monday, July 23, 2007

Richard Bach


Fernão Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho, mas voou muito além dos Penhascos Longínquos. A solidão não o entristecia. Aprendia cada vez mais. Aprendeu que um eficiente mergulho a grande velocidade lhe dava o peixe raro e saboroso que vivia três metros abaixo da superfície do mar. Já não precisava de barcos de pesca nem de pão duro para viver. Aprendeu a dormir no ar, estabelecendo um percurso noturno pelo vento do largo, cobrindo cento e cinqüenta quilômetros desde o ocaso até a aurora. Utilizando o mesmo controle interior, voou através de nevoeiros cerrados e subiu acima deles para céus mais claros e resplandescentes... Enquanto as outras gaivotas ficavam em terra, conhecendo apenas a neblina e a chuva.
Fernão Capelo Gaivota

Saturday, July 21, 2007

GANYMEDES JOSE

Dialogar é mais do que isso, Flávia... dialogar é a gente conversar com os olhos, com o coração. Aí, quando chega o momento certo, é que sabemos se o diálogo funcionou. Seu diálogo com a sua filha não funcionou. Alguma coisa está errada! Não sei de quem é a culpa. Pode até nem haver culpa. Mas não será com essa sua atitude radical que você conseguirá segurar o amor e o respeito de Lília!


A LADEIRA DA SAUDADE

NELSON RODRIGUES


VOZ DE ALAÍDE (microfone) - Eu sou muito mais mulher do que você - sempre fui!
LÚCIA (noutra atitude) - Foi você quem perdeu minha alma!
PEDRO (rápido) - E você a minha!
LÚCIA (sardônica) - Você nunca prestou! Foi sempre isso! Não me olhe, que não adianta!
PEDRO - Está bem. Depois eu falo com você.
LÚCIA - É inútil. Não serei de você, nem de ninguém. Você nunca me tocará, Pedro.
PEDRO - Você diz isso agora!
LÚCIA - Jurei que nem um médico veria o meu corpo.
PEDRO (cruel) - Então ela ficou impressionadíssima com as mulheres vestidas de amarelo e cor-de-rosa. Uma vitrola! Duas fulanas dançando!
LÚCIA (chorosa) - Não fale assim! Ela está ali. Morreu.
PEDRO (sardônico) - Era louca por toda mulher que não prestava. Vivia me falando em Clessi. Uma desequilibrada!
LÚCIA (revoltada) - Você deve estar bêbedo para falar assim!
PEDRO (sério) - Ou louco... (grave) Não tenho o menor medo da loucura.



Vestido de Noiva

Friday, July 20, 2007

FERNANDO PESSOA


Talvez se descubra que aquilo a que chamamos Deus, e que tão patentemente está em outro plano que não a lógica e a realidade espacial e temporal, é um nosso modo de existência, uma sensação de nós em outra dimensão do ser. Isto não me parece impossível. Os sonhos também serão talvez ou ainda outra dimensão em que vivemos, ou um cruzamento de duas dimensões; como um corpo vive na altura, na largura e no comprimento, os nossos sonhos, quem sabe, viverão no ideal, no eu e no espaço. No espaço pela sua representação visível; no ideal pela sua apresentação de outro género que a da matéria; no eu pela sua íntima dimensão de nossos. O próprio Eu, o de cada um de nós, é talvez uma dimensão divina. Tudo isto é complexo e a seu tempo, sem dúvida, será determinado. Os sonhadores actuais são talvez os grandes precursores da ciência final do futuro.


LIVRO DO DESASSOSSEGO

Gabriel Garcia Marquez

Então deu outro salto para se antecipar às predições e averiguar a data e as circunstâncias da sua morte. Entretanto antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia nunca mais daquele quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos ( ou das miragens ) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que Aureliano Babilonia acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo que estava escrito neles era irrepetível desde sempre, e por todo o sempre, porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra.
Cem anos de Solidão

ERICO VERÍSSIMO

Eugenio olhou em torno do quarto. Olívia estava presente ‑ ele sentia ‑ naqueles móveis, naqueles objetos, no perfume que andava no ar. Estava presente nas suas cartas, no próprio brilho das estrelas e também na alma e no sangue de Ana Maria. Mas dentro de algum tempo ‑ sentia Eugenio dolorosamente ‑ ela seria apenas um símbolo, um nome sem corpo, um rosto sem feições. Foi deitar‑se impressionado. E naquela noite, sonhou que Olívia tinha sido apenas um sonho em sua vida.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO

CLARICE LISPECTOR


Há uma hora em que se deve esquecer a própria compreensão humana e tomar um partido, mesmo errado, pela vítima, e um partido, mesmo errado, contra o inimigo. E tornar-se primário a ponto de dividir as pessoas em boas e más. A hora da sobrevivência é aquela em que a crueldade de quem é vítima é permitida, a crueldade e a revolta.

É preciso também não perdoar


Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim.


Felicidade Clandestina


Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever. Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la.

Escrever

Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando da minha própria força. Sou forte mas também sou destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais.


Deus

Como seria o amor entre duas esperanças? Verde e verde, e depois o mesmo verde, que, de repente, por vibração de verdes, se torna verde. Amor predestinado pelo seu próprio mecanismo aéreo. Mas onde estariam nela as glândulas de seu destino, e as adrenalinas de seu seco e verde interior? Pois era um ser oco, um enxerto de gravetos, simples atração eletiva de linhas verdes. Eu? Eu. Nós? Nós. Nessa magra esperança de pernas altas, que caminharia sobre um seio sem nem sequer acordar o resto do corpo, nessa esperança que não pode ser oca, pois não existe linha oca, nessa esperança a energia atômica sem tragédia se encaminha em silêncio.

Esperança

E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse.


Feliz aniversário

Faça com que eu tenha a coragem de te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo
Faça com que a solidão não me destrua
Faça com que minha solidão
me sirva de companhia

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo
Receba em teus braços o meu pecado de pensar

Meu Deus, me dê coragem...


O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando." Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.

Das vantagens de ser bobo

Faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha...

Prece

A pretexto de férias com minha família, separamo-nos. Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros.

Uma Amizade Sincera


Como em tudo, no escrever também tenho uma espécie de receio de ir longe demais. Que será isso? Por que? Retenho-me, como se retivesse as rédeas de um cavalo que pudesse galopar e me levar Deus sabe onde. Eu me guardo. Por que e para quê? Para o que estou eu me poupando? Eu já tive clara consciência disso quando uma vez escrevi: "é preciso não ter medo de criar". Por que o medo? Medo de conhecer os limites de minha capacidade? Ou medo do aprendiz de feiticeiro que não sabia como parar? Quem sabe, assim como uma mulher que se guarda intocada para dar-se um dia ao amor, talvez eu queira morrer toda inteira para que Deus me tenha toda.

Não soltar os cavalos

Monday, July 16, 2007

ANTON CHEKOV

O amor geralmente é poetizado, decorado com rosas e rouxinois... Nós, russos, decoramos nosso amor com questões sobre ele.
SOBRE O AMOR

EMILE ZOLA

Nos, escritores, somos mais ou menos mentirosos, mas como funcionam nossas mentiras e quais sao os pensamentos por tras delas?... De minha parte ainda acredito que minhas mentiras caminham na direcao da verdade. Aumento os fatos e lhes dou um chute em direcao as estrelas no trampolim da observacao precisa. Entao a verdade aparece nas asas do simbolismo.

Monday, July 09, 2007

CALDERON DE LA BARCA

¿Qué os admira? ¿Qué os espanta,
si fue mi maestro un sueño,
y estoy temiendo, en mis ansias,
que he de despertar y hallarme
otra vez en mi cerrada
prisión? Y cuando no sea,
el soñarlo sólo basta;
pues así llegué a saber
que toda la dicha humana,
en fin, pasa como sueño,
y quiero hoy aprovecharla
el tiempo que me durare,
pidiendo de nuestras faltas
perdón, pues de pechos nobles
es tan propio el perdonarlas.

la vida es sueño

FREDERICO GARCIA LORCA


BELISA. ¡Amor!... ¿quién te ha herido en el pecho? (El Hom­bre se oculta la cara con la capa. Ésta debe ser inmensa y cu­brirle hasta los pies. Abrazándolo.) ¿Quién abrió tus venas para que llenes de sangre mi jardín... ¡Amor! Déjame ver tu rostro por un instante siquiera... ¡Ay!, ¿quién te dio muer­te?... ¿quién?
PERLIMPLÍN. (Descubriéndose.) Tu marido acaba de matar­me con este puñal de esmeraldas. (Enseña el puñal clavado en el pecho.)
BELISA. (Espantada.) ¡Perlimplín!
PERLIMPLÍN. Él salió corriendo por el campo y no le verás más nunca. Me mató porque sabía que te amaba como na­die. Mientras me hería... gritó: ¡Belisa ya tiene un alma!... Acércate.

(Está tendido en el banco.)

BELISA. ¿Pero qué es esto?... ¡Y estás herido de verdad!
PERLIMPLÍN. Perlimplín me mató... ¡Ah, don Perlimplín! Viejo verde, monigote sin fuerzas, tú no podías gozar el cuerpo de Belisa... El cuerpo de Belisa era para músculos jó­venes y labios de ascuas... Yo en cambio amaba tu cuerpo nada más... ¡tu cuerpo!... pero me ha matado... con este ramo ardiente de piedras preciosas.
BELISA. ¿Qué has hecho?
PERLIMPLÍN. (Moribundo.) ¿Entiendes?... Yo soy mi alma y tú eres tu cuerpo... Déjame en este último instante, puesto que tanto me has querido, morir abrazado a él.
BELISA. (Se acerca medio desnuda y lo abraza.) Sí... ¿pero y el joven?... ¿Por qué me has engañado?
PERLIMPLfN. ¿El joven?... (Cierra los ojos.)

(La escena adquiere luz mágica.)

MARCOLFA. (Entrando.) ¡Señora!
BELISA. (Llorando.) ¡Don Perlimplín ha muerto!
MARCOLFA. ¡Lo sabía! Ahora le amortajaremos con el rojo traje juvenil con que paseaba bajo sus mismos balcones.
BELISA. (Llorando.) ¡Nunca creí que fuese tan complicado!
MARCOLFA. Se dio cuenta demasiado tarde. Yo le haré una corona de flores como un sol de mediodía.
BELISA. (Extrañada y en otro mundo.) Perlimplín, ¿qué cosa has hecho, Perlimplín?
MARCOLFA. Belisa, ya eres otra mujer... Estás vestida por la sangre gloriosísima de mi señor.
BELISA. ¿Pero quién era este hombre? ¿Quién era?
MARCOLFA. El hermoso adolescente al que nunca verás el rostro.
BELISA. Sí, sí, Marcolfa, le quiero, le quiero con toda la fuerza de mi carne y de mi alma. Pero ¿dónde está el joven de la capa roja?... Dios mío. ¿Dónde está?
MARCOLFA. Don Perlimplín, duerme tranquilo... ¿La estás oyendo?... Don Perlimplín... ¿la estás oyendo?...

Amor de don Perlimplín con Belisa en su jardín

Wednesday, July 04, 2007

NICOLAU MAQUIAVEL

A natureza dos seres humanos é principesca e para que os principes entendam isso eles precisam de humanidade.
O PRINCIPE

Lygia Fagundes Telles


Minha mae nao usava a palavra suor que era forte demais para o seu vocabulario, ela gostava das belas palavras. Das belas imagens. Delicadamente falava em transpiracao com aquela elegancia em vestir palavras como nos vestia.


VERDE LAGARTO AMARELO

Tuesday, July 03, 2007

RICHARD BACH



Se voce praticar a ficcao por um tempo percebera que os personagens de ficcao as vezes sao mais reais do que os seres humanos.

ILUSOES

Monday, June 18, 2007

Gustave Flaubert


Antes de casar ela julgara ter amor, mas como a felicidade que deveria ter resultado daquele amor não viera, ela deveria ter-se enganado, pensava. E Emma procurava saber o que se entendia exatamente, na vida, pelas palavras "felicidade", "paixão", "embria guês", que lhe haviam parecido tão belas nos livros.


MADAME BOVARY

Saturday, June 16, 2007

DAPHNE DU MAURIER


A casa virou um sepulcro, nosso medo e nosso sofrimento estavam agora enterrados para sempre sob aquelas ruinas. Quando eu penso em Manderley em minhas horas vazias faco isso sem amargura. Penso apenas em como tudo poderia ter sido, como se eu pudesse ter vivido ali sem oscilações.
REBECCA

Saturday, June 02, 2007

SUN TZU


A grande fraqueza vem de se preparar contra possiveis ataques e a grande forca vem de impulsionar nosso adversario a se preparar contra nos.

A ARTE DA GUERRA

Wednesday, May 09, 2007

SCHILLER

Duas rainhas pretendestes.
Traistes e desprezastes
um coracao amante
por vencer o duro coracao de uma orgulhosa.
Pois ajoelhai agora aos pes de Elizabeth! MARY

Deus esta comigo
E o astuto padre nao ganhou a batalha.
A ameaca era contra a minha cabeca...
E tomba a vossa! ELIZABETH
MARIA STUART

Friday, May 04, 2007

Gerty Colin


Quando a traição e a desconfiança caem sobre um casal, os esforços mais constantes de redenção e os sacrifícios mais penosos de uma parte ou de outra, não servem muitas vezes senão para cavar ainda mais o imenso abismo que os separou.
O ULTIMO AMOR DE WAGNER

Na foto: Codessa D'Agoult, Richard Wagner e Cosima Liszt.




Wednesday, May 02, 2007

Euripedes

Oh Zeus, por que destes ao ser humano a capacidade de reconhecer o ouro e a pedra preciosa, mas quando a alma de um homem é vil metal nenhum sinal lhe vem cravado no rosto ?
MEDEA
Antes da nossa civilizacao nascer, os gregos ja sabiam tudo...

Saturday, April 28, 2007

Elisa Lucinda


Na porta do hall que dá nos interiores do meu coração, Tem uma moça com uma lança na mão. Quem chega não pode entrar assim desastrado Ter acesso ao palácio Ao segredo diário Ao doce difícil apiário de sua função Pode não! Na frente tem um jardim Depois é a sala de estar Que é também a de espera. Lá tem um bar pra quem quiser beber Tem até um “sumiê” Quen é de derreter a gente. Ardente, lá tem instalado Um ar-condicionado a arejar Que é pra disfarçar a quentura que vem de dentro. Na divisa do corredor Em cima do gongá Tem um andor Com uma guerreira treinada pra fazer alguns testes Que é pra ver quem merece entrar Conhecer, se esparramar.Tem teste de olhar Tem prova de fogo Tem prova real Tem a qualidade do jogo Tem argüição geral Tem fino escambau A moça não deixa entrar Só passa quem exuberar fatal Ou quem conseguir ousar dela escapar. Aquele que entrar há de tratar De não desarrumar a mesa posta A comida bem-feita A flor no jarro. Tudo é muito delicado Por isso caro Tudo é pouco e virtuoso Por isso cristal Tudo é garimpado e perseverante Por isso diamante Por isso avante mas não repuxe o tapete, deixe tudo no lugar. Se ficar, há que construir mais uma sala, Em vez de falas, Nem que seja umazinha puxada lá atrás. Mas faça carinho nos móveis: Lá tudo é vida Ali tudo respira sangue e sentimento. Por isso a guerreira precisa barrar os nojentos Os vampiros peçonhentos Disfarçados de príncipes. Ó, é muito simples, como entrar em uma floresta. Isso é aviso, é instrução Isso é precaução de coração vivido... Hoje, fruta esperta protejo o quintal. E se faço esse escarcéu, na portaria Não é nem por ser convencida, mulher superior Rainha metida à beça ou raivosa cadela, e faco tudo isso e vivo na cautela É porque sou muito amiga dela.


MAPA DA MINA

Sunday, April 08, 2007

CRUZ E SOUZA


Para encantar os círculos da Vida
Ser tranqüilo, sonhador, confiante,
Sempre trazer o coração radiante
Como um rio e rosais junto de ermida.
Beber na vinha celestial, garrida
Das estrelas o vinho flamejante
E caminhar vitorioso e ovante
Como um deus, com a cabeça enflorescida.
Sorrir, amar para alargar os mundos
Do Sentimento e para ter profundos
Momentos de momentos soberanos.
Para sentir em torno à terra ondeando
Um sonho, sempre um sonho além rolando
Vagas e vagas de imortais oceanos.
Sempre o sonho

Saturday, April 07, 2007

JAMES JOYCE


Ninguém foi além de Joyce até agora. Ulisses parece ser o fim do caminho. Joyce incomoda por pedir uma atenção não convencional, por exigir uma sensibilidade de leitor que vai muito além do trivial. Incomoda a ponto de você entender quase nada. Quase. Você fica com o sentimento de que tem algo ali que você quase entendeu. Que há muita coisa ali pra revirar.


"Stephen, com o cotovelo repousando no granito pontudo, encostou a palma abaixo da sobrancelha e olhou para a extremidade da manga de seu casaco preto lustroso que começava a puir. Uma dor, que ainda não era a dor do amor, agitou seu coração. Silenciosamente, em sonho, ela viera até ele após a sua morte, seu corpo gasto dentro de largas roupas tumulares marrons, exalando um odor de cera e pau-rosa, seu sopro, que se curvara sobre ele, mudo, reprovador, um fraco odor de cinzas molhadas. Através do punho puído ele viu o mar saudado como uma grande e doce mãe pela voz bem alimentada ao seu lado. A orla da baía e o horizonte continham uma massa líquida verde opaca. Uma tigela de porcelana ficara ao lado do leito de morte dela contendo a bile que parecia uma lesma verde arrancada de seu fígado apodrecido em seus ataques de vômito e de altos gemidos. "
ULISSES

Wednesday, April 04, 2007

MARIO DE SA CARNEIRO

Nem ópio nem morfina que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
E só de mim que ando delirante
Manhã tão forte que me anoiteceu.

Clarice Lispector

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço. Além do que: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano- já me aconteceu antes. Pois sei que - em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade- essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.
A Lucidez Perigosa

Carlos Drummond de Andrade



Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros, na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos! vamos conjugar o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas e do medo
e da moeda e da política, o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar, razão de ser e de viver.
ALÉM DA TERRA, ALÉM DO CÉU

Alexandre Herculano

Ai, que és tu, existência?!
Um pesadelo,
Um sonho mau, de que se acorda em trevas,
Na vala dos cadáveres, em meio
Da única herança que pertence ao homem,
Um sudário e o perpétuo esquecimento.
(...)
E da pátria a saudade, em sonho triste,
Imóvel, do viver me tece a noite.
Tristezas do Desterro

Almeida Garrett

Seus olhos se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, num só momento que a vi,
Queimar toda alma senti...
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Seus Olhos

Eça de Queirós

Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
O Suave Milagre

Tuesday, March 20, 2007

Machado de Assis

Vamos lá; deixemos estas salas que tão funestas me foram. Ela aí vai, a minha estrela, aí vai a resvalar no abismo, de onde não sei se a levantarei mais... Nem eu... Nem vós, meu amigo, nem vós que me quereis tanto, ninguém.
TU, SÓ TU, PURO AMOR

Saturday, March 17, 2007

NAJUA e SORAYA ZAIED

As duas grandes bailarinas brasileiras que arrebentaram de fazer sucesso no Cairo. Tecnica apuradissima. Lindas !!! Vale conferir...


Sunday, March 11, 2007

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Atingido o sofrimento máximo, nada já nos faz sofrer. Vibradas as sensações máximas, nada já nos fará oscilar. Simplesmente, este momento culminante raras são as criaturas que o vivem. As que o viveram ou são, como eu, os mortos-vivos, ou — apenas — os desencantados que, muita vez, acabam no suicídio. Contudo, ignoro se é felicidade maior não se existir tamanho instante. Os que o não vivem, têm a paz — pode ser. Entretanto, não sei. E a verdade é que todos esperam esse momento luminoso. Logo, todos são infelizes. Eis pelo que, apesar de tudo, eu me orgulho de o ter vivido.
A CONFISSÃO DE LÚCIO

MACHADO DE ASSIS


Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. I: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti.” Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve!
DOM CASMURRO

PEDRO BANDEIRA

"E o meu amado o que diria se eu partisse? O que diria se estes versos não ouvisse? O que teria em suas mãos senão um corpo dessangrado, cheio de carne, de suspiros, de delírio apaixonado? Faltaria, porém, o recheio das idéias, a loucura e a razão, que transformam um encontro sem graça em tremenda paixão! Mas não tema oh meu querido que esse amor desapareça, pois ele é amado ao mesmo tempo por um corpo e uma cabeça. O corpo ele pode beijar, cheirar, fazer do corpo mulher. Mas a cabeça o possui, manipula e faz dele o que quer! Haja o que houver, do meu amor esse garoto foi o rei. Digam a ele que com corpo e cabeça eu sempre o amarei. A marca dessa lágrima testemunha que eu o amei perdidamente. Em suas mãos depositei a minha vida e me entreguei completamente. Assinei com minhas lágrimas cada verso que lhe dei, como se fossem confetes de um carnaval que não brinquei. Mas a cabeça apaixonada delirou foi farsante, vigarista, mascarada, foi amante, entregando-lhe outra amada, foi covarde que amando nunca amou!"
A MARCA DE UMA LAGRIMA

Monday, February 26, 2007

Jorge Luis Borges


Em que reino, em que século,
Sob que silenciosa conjunção dos astros,
Em que dia secreto
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular idéia de inventar a alegria?
Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui rubro ao longo das gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Nos invada sua música, seu fogo e seus leões.
Na noite do júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E a exaltação nova que este dia lhe canto
Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história
Como se esta já fora cinza na memória.

***
En el bronce de Homero resplandece tu nombre,
negro vino que alegras el corazón del hombre.
Siglos de siglos hace que vas de mano en mano
desde el ritón del griego al cuerno del germano.
En la aurora ya estabas. A las generaciones
les diste en el camino tu fuego y tus leones.
Junto a aquel otro río de noches y de días
corre el tuyo que aclaman amigos y alegrías,
vino que como un Éufrates patriarcal y profundo
vas fluyendo a lo largo de la historia del mundo.
En tu cristal que vive nuestros ojos han visto
una roja metáfora de la sangre de Cristo.
En las arrebatadas estrofas del sufí
eres la cimitarra, la rosa y el rubí.
Que otros en tu Leteo beban un triste olvido;
yo busco en ti las fiestas del fervor compartido.
Sésamo con el cual antiguas noches abro
y en la dura tiniebla, dádiva y candelabro.
Vino del mutuo amor o la roja pelea,
alguna vez te llamaré. Que así sea.
Soneto do Vinho

Fernando Pessoa


Boa é a vida,
mas melhor é o vinho.