Saturday, January 27, 2007

Jean Paul Sartre





Brunet volta-se, tudo está calmo, os homens habituaram-se à sua alegria, há quem jogue às cartas e cante, outros estão silenciosos e encantados, contam histórias a si próprios, com os olhos cheios de recordações, que finalmente ousam deixar sair do fundo dos seus corações; ninguém presta atenção ao comboio que para, Brunet está completamente adormecido, sonha com uma estranha planície onde homens totalmente nus e magros como esqueletos, com barbas grisalhas, estão sentados à volta de uma grande fogueira; quando acorda, o Sol está a baixar no horizonte, o céu está arroxeado, duas vacas pastam num prado, o comboio continua a não se mexer, há tipos que cantam; no campo, soldados alemães apanham flores. Há um pequeno e gordo, muito forte, de faces coradas, que se aproxima dos prisioneiros, com uma margarida na boca e um sorriso muito aberto.
COM A MORTE NA ALMA

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